Periódicos científicos

O inimigo no espaço colonial e o discurso sobre raça como operador bionecropolítico.

Revista Kínesis (UNESP)

O presente artigo busca pensar, tomando como base as obras de Achille Mbembe (2018) e Grada Kilomba (2019), a construção da figura do “inimigo”, ou do “Outro”, a partir do advento do conceito de raça e das práticas de racismo no seio das sociedades colonialistas. Isso porque a lógica colonial, de acordo com os autores supracitados, não admite qualquer tipo de vínculo entre o conquistador e o nativo ou o escravizado que não seja a partir da negação, da exclusão e da violência exercida por aquele no corpo destes, de tal sorte que o espaço da colônia se converte em um grande laboratório bionecropolítico. Para compreendermos, portanto, a necessidade de hierarquização entre uns e outros –e da consequente inferiorização do Outro-, partiremos da proposição de Mbembe, em seu ensaio Necropolítica (2018), na qual o autor identifica o racismo como a “condição para aceitabilidade do fazer morrer”. Nesse sentido, a conversão daqueles considerados inferiores, com base em critérios construídos pelo discurso europeu sobre “raça”, em inimigos passou a atuar como forma de justificar o exercício do poder punitivo e do poder de morte sobre esses corpos. Por fim, à guisa de conclusão, tentamos ressaltar que o considerado passado colonial e escravocrata ainda se faz presente em nosso cotidiano e na maneira de fazer política na contemporaneidade, ao atentarmo-nos para os frequentes episódios de genocídio do povo negro ainda no século XXI.

Data de publicação: julho de 2020.

Necropolítica made in Brazil: exercício do poder de morte nas periferias do capitalismo através do racismo.

Cadernos PET-Filosofia (UFPR)

Buscar-se-á desenvolver no presente artigo a temática do racismo e sua forma de operar dentro de um contexto no qual se verifica a existência de uma biopolítica, e, posteriormente, de uma necropolítica; com enfoque no seu potencial de dividir e estigmatizar populações. Para isso, faz-se necessário identificar a atuação do racismo de Estado trabalhado por Michel Foucault no curso “Em Defesa da Sociedade” (2005) e de outras formas de racismo no cenário capitalista em dois momentos distintos: o primeiro englobando o período de atuação da biopolítica, e o segundo, em que verifica-se a insurgência do que o pensador camaronês Achille Mbembe (2003) chama de necropolítica. Destarte, o caminho a ser seguido inicia-se na explanação do conceito de biopolítica, enfatizando a necessidade verificada na fase de expansão do capitalismo em manter corpos vivos, dóceis e produtivos; seguida da análise do racismo de Estado tal qual pensado por Foucault como produtor de cisões e diferenças dentro do corpo social; a identificação das alterações de contexto do capitalismo como sistema econômico, pautada nas diferenças da fase expansionista e de consolidação para a fase de declínio e crise mundial; e, por fim, a consideração da necropolítica como possível forma de atualização, expansão e deslocamento do pensamento foucaultiano para as periferias do capitalismo na fase de crise do sistema, onde o modo de operar da política passa a ser o “trabalho de morte”.

Data de publicação: agosto de 2020.

A subjetividade do artista na arte americana do pós-guerra: a Pop Art versus o Expressionismo Abstrato

Revista Ensaios Filosóficos

O presente artigo tem como objetivo abordar as principais divergências entre os expressionistas abstratos e os artistas pop do período pós-guerra americano no que concerne à subjetividade exposta em suas obras. A indagação central a ser respondida é: de que maneira o sujeito artista se faz presente –ou ausente- em sua produção artística? E quais são os elementos que nos permitem perceber suas características subjetivas ou antissubjetivas, tanto no processo de produção da obra quanto no produto final? As bases para tal estudo serão alicerçadas na constituição do sujeito e da subjetividade para a psicanálise freudiana, a qual perpassa as noções de consciente e inconsciente, e também em um exame dos métodos de produção utilizados pelos dois movimentos, dentre eles a serigrafia, os pontos ben-day e a action painting. Dentro desse contexto, seremos levados a investigar o automatismo decorrente desses processos e o seu papel distinto dentro de cada um. Dedicaremo-nos ainda à análise das obras de arte pertinentes à discussão para tornar possível a comparação entre a pop art e o expressionismo abstrato no que concerne à subjetividade dos artistas de ambos os movimentos.

Data de publicação: julho de 2020.

É preciso descolonizar a criminologia

Boletim do IBCCrim (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais)

A partir da compreensão das ciências criminais e, mais especificamente, da criminologia enquanto um conjunto de práticas e discursos (re)produtores da colonialidade, almejou-se desenvolver a proposta de difundir perspectivas criminológicas capazes de romper com a lógica colonial. Para tal, destaca-se a valorização de epistemologias diversas da proposta eurocêntrica de universalização dos saberes, a qual perpetua estruturas de dominação.

Data de publicação: abril de 2021.

Todo camburão tem um pouco de navio negreiro: colonialidade do poder punitivo e a produção da morte no cárcere

Boletim do IBCCrim (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais)

O presente texto busca refletir sobre a concentração de corpos negros e pardos no sistema carcerário sob o prisma do racismo, considerando-o como um fenômeno que produz divisões sociais que dão continuidade à lógica colonial fundadora da sociedade brasileira. Assim, o encarceramento revela-se uma poderosa ferramenta necropolítica, pois contribui para a produção da morte (material, simbólica ou social) dos sujeitos encarcerados.

Data de publicação: fevereiro de 2023.

Ainda sobre "nós" e "os outros": reflexões acerca da violência e da submissão autoritária no Brasil

Revista do NESEF/UFPR

O campo político proporciona terreno fértil para a compreensão a respeito das profundas cesuras sociais existentes na população brasileira. São múltiplos os significados e as divisões entre “nós” e “os outros”, principalmente no que concerne à legitimação do autoritarismo e do exercício da violência. Nesse sentido, nosso escrito almeja estabelecer o eixo de ligação entre política e moral como forma de identificar possíveis traços inerentes à construção de distintos sistemas de valores capazes de produzir relações de, por um lado, submissão, e, por outro, da agressão autoritária dirigida por, nos termos de Theodor Adorno, um ingroup em direção a um outgroup. Para tal, no caso específico do Brasil, será preciso resgatar a herança colonial e escravocrata do país – o que, para Achille Mbembe, pode ser considerado como uma linha de corte crucial entre ambos os grupos supracitados.

Data de publicação: abril de 2023.